Page 100 - Revista do Cavalo Árabe Edição Julho 2024 - Nº 81
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ANGLO-ÁRABE
não estivesse preparada para esse crescimento de outra raça
de esporte, numa época em que os olhos estavam voltados
O ANGLO-ÁRABE para o boom do halter do puro sangue árabe. Hoje a ABCCA
vive reconhecidamente outro momento de muito foco no ca-
valo montado e de esporte, o que a tem feito crescer e a tor-
SE TORNA FINALMENTE nado uma Associação multidisciplinar. Mas, infelizmente esse
UMA RAÇA NO BRASIL esforço sem retorno dos criadores de AA da época foi dimi-
nuindo o entusiasmo de alguns, outros criadores se perderam
e outros tomaram a iniciativa de migrar para a raça BH que
vinha surgindo e crescendo, baseada justamente no conceito
Autor: Carlos Eduardo Vogas Valença de miscigenação de raças de hipismo, como acontecera na
D esde o dia 24/05/2024, quando foi aprovada a perceberam que se não fizessem o mesmo perderiam essa ir conquistando o mercado brasileiro de hipismo como ve-
Europa com as raças “warmbloods”, o que a credenciou para
última versão do nosso novo regulamento do
corrida, então a CIAA-Confederação Internacional do Anglo-
mos hoje. E o nosso AA de hipismo da época ainda contribuiu
-Árabe, a entidade máxima da raça no mundo, reestruturou o
Studbook, o Anglo-Árabe foi finalmente reco-
como raça formadora do BH. E o AA brasileiro de hipismo se
padrão de formação da raça em seções, contemplando pu-
nhecido pelo MAPA – Ministério da Agricultura
e Pecuária do Brasil, como uma nova Raça e não
intermediário até 1,10/1,20m, com a exceção de raros criadores
competitiva visando o hipismo, para que o AA pudesse con-
mais como um CCG (Controle Genealógico), como era até a ros e cruzados, visando permitir a evolução da raça de forma perdeu e quase desapareceu, ficando restrito a um mercado O Anglo-Árabe Dourado WV (Relhaçois x Viva Maria), criado por
daquela época, como Waldyr Valades, o último proprietário
Waldir Valades, na foto montado por Geraldo Campos
versão anterior do regulamento. Essa e outras conquistas para tinuar a estar presente em Olimpíadas e Mundiais, principal- de Relhaicois, que permaneceu no mercado até recentemen-
a raça que irei abordar, começaram a ser trabalhadas na segun- mente nas modalidades de Salto e CCE (Concurso Completo te e teve a pouco tempo (2021) um produto seu filho daquele durante 10 anos no Hipismo Rural e também no CCE, e que
da gestão do presidente anterior Rodrigo Forte, quando fui de Equitação, recentemente no Brasil renomeado pela CBH garanhão, Dourado WV, vencendo prova concorrida de 1,40m, estava lesionada e aposentada lá com ele. Para resumir, pois
convidado para integrar a diretoria do AA, sendo definitiva- para Hipismo Completo). E foram essas modificações que o na Hípica da Santo Amaro, feito que gerou matéria específica muita estória se passou desde então, isso deu início a nos-
mente obtidas na atual gestão do presidente Paquito Carras- Brasil não implementou que o fizeram perder o bonde da his- nesta revista do Cavalo Árabe, ed. 73. sa pequena célula de criação de AAs de hipismo, que hoje
co. A ambos devo agradecer todo apoio para esse importante tória, ficando mais de 30 anos defasado e que agora nosso Após esse declínio no hipismo, o AA brasileiro ressurgiu se tornou o foco exclusivo. Desde então passamos a realizar
passo para a nossa raça, que preenche uma lacuna de mais novo regulamento vem resgatar, passando a estar “uptodate” com outro perfil, na mão dos criadores do enduro equestre, a um pente fino no mercado sobre os descendendes daqueles
de 30 anos no Brasil. Não poderíamos deixar de citar o apoio com o que existe de mais moderno que é o regulamento fran- partir da segunda metade dos anos 90. Esse período coincidiu garanhões AAs de hipismo do passado, importados da Fran-
total de nosso VP Ricardo Saliba, o maior criador de AAs do cês, editado em jan/23. com o nascimento e crescimento do criatório brasileiro de ca- ça. Comecei a estudar, me debruçar sobre as estórias da raça,
Brasil na atualidade, além do empenho da nossa Superinten- valos de enduro de sangue árabe, e junto com ele o AA estava sobre as linhagens e o que acontecia no mundo do AA de hi-
dente do Studbook, Cristina Treu, que nesses quase 2 anos de Num breve histórico sobre o AA no Brasil, tivemos uma inserido. Vários indivíduos foram surgindo, sempre em menor pismo. Foi ai que mapeei o hiato que tivemos e as suas causas
negociações, idas e vindas, reuniões junto ao MAPA, sempre época áurea até meados da década de 1990, quando tinha- número que os PSAs, mas sempre se destacando em provas já citadas. Quando fui convidado no início da gestão passada
foi uma grande parceira e incansável colaboradora para que mos um criatório significativo e totalmente voltado para o nacionais e internacionais. O Haras Endurance foi o pioneiro e da ABCCA para a diretoria do AA, estabeleci como condição
obtivéssemos sucesso. hipismo. Me lembro de quando iniciei no salto ainda jovem, produziu neste início excepcionais AAs de enduro, como Nuit o apoio incondicional a causa do AA de hipismo, no tocante
a grande maioria dos cavalos disponíveis eram PSI ou AA. E a Endurance, Magico Endurance (Campeão Brasileiro de 160Km a revisão do regulamento, sua equiparação ao que havia de
Num breve histórico, a raça AA é uma das mais antigas do minha paixão pelo AA começou ai. Vários criatórios de qua- e 3º col. no Mundial de Cavalos Jovens) e Sintra Endurance (Bi- mais moderno na Europa e sua aprovação no MAPA, como um
mundo, sendo citada em algumas literaturas como sendo o lidade e destaque. Várias importações de garanhões famosos campeã Brasileira de 160Km). Hoje o criatório de enduro brasi- resgate do passado e uma forma de permitir que nossos cria-
3º studbook mais antigo do mundo. Começou a ser criada da França foram realizadas, como Relhaicois, Faristan, Juriste leiro de cavalos de sangue árabe é um dos mais destacados do dores pudessem ter acesso com sua notável competência, a
na França, pouco antes da era napoleônica, pelo cruzamen- de Loop, Diapason des Gaves, além de éguas e produtos no mundo com reconhecimento internacional. Na recente prova um novo mercado pujante e de consagrado retorno, mercado
to das raças PSA (puro sangue árabe) com o PSI (puro sangue ventre. Produtos se destacaram como Bawani NA, que foi o realizada em jun/24, no Haras Albar/Campinas, try out para o esse que agora passa a estar aberto para a nossa Associação.
inglês), evoluindo ao longo do tempo com o cruzamento en- primeiro grande cavalo que projetou o jovem cavaleiro que Pan 2025 de Enduro no Brasil, a vencedora na categoria CEI 2* A ABCCA aceitou o desafio e nos debruçamos sobre a causa.
tre indivíduos AAs, visando obter um cavalo ideal de guerra surgia, de nome Doda Miranda, hoje um dos melhores cava- FEI 120Km, a categoria do Pan, foi a égua AA NNL Provence, Hoje estamos começando uma nova fase para o AA no Bra-
e que com o passar do tempo passou a ser uma raça voltada leiros de salto do Brasil. Totum Luckstricke, com quem Doda de criação de Nick Lins da Fazenda Paciência e propriedade sil e como diretor da raça já viemos fomentando e trazendo
aos esportes. Ao longo do século 20 a raça AA contribuiu de saltou o Derby de Hamburgo e outros, cavalos AAs brasileiros de Rafael Salvador do Haras Trio. Desde 1993 tinha começado novos criadores para esse novo perfil da raça, dando acesso
forma significativa para a formação e o “refrescamento de com projeção internacional no salto. a praticar o enduro e a partir de 2008 passei a criar AAs para inclusive aos poucos produtos que geramos de 2017 para cá.
sangue”, de diversas raças “warmbloods” européias importan- Mas quis o destino que esses mesmos criadores apaixona- esse perfil, realizando o sonho de me tornar um pequeno cria- Agradeço aos novos criadores e associados da ABCCA, que já
tes em desenvolvimento e que hoje são destaque no hipismo dos, competentes e focados na raça, não conseguissem su- dor e conquistamos alguns títulos no esporte e nas últimas aderiram a este projeto, como o Cel. Migon, nosso atual dire-
mundial. Todas essas principais raças com foco no hipismo, cesso na equiparação do nosso regulamento com os novos Nacionais realizadas da raça. Até que em 2017 recebi uma liga- tor de CCE, Louis Fergus de Tietê/SP, Rodrigo Frisanco de Rio
permitiam cruzamento interracial, cada qual com suas regras, regulamentos da raça recentemente aprovados na Europa. ção do amigo Ricardo Vidotto, me falando de uma égua filha Claro/SP, Dr. Gustavo Gouveia de Brasília/DF e outros criado-
visando desenvolver o melhor padrão racial de performance Diversas razões houveram para isso, divergências, disputas de de *Faristan (garanhão AA de hipismo importado da França no res tradicionais que já se comprometeram a aderir ao projeto
no hipismo. Assim como elas, os studbooks do AA europeus interesses e talvez o foco da própria ABCCA na época, que passsado), que tinha ganho quase tudo sob a sua supervisão como Wilson Nicolau do Haras Piracuama.
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